Pesquisa indica que 32% das brasileiras de até 20 anos engravidaram; comportamento de risco delas preocupa especialistas da Unifesp
Fabiana Cambricoli - O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO - Um terço dos jovens de 14 a 25 anos nunca usa camisinha em suas
relações sexuais e 32% das mulheres até 20 anos já engravidaram pelo menos uma
vez - e 12% delas passaram por um aborto (espontâneo ou provocado). Os dados
fazem parte do 2.º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, realizado por
pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e divulgado nesta
quarta-feira, 26.
Evelson de Freitas/Estadão
Tulio Rodrigues.'Na hora não tinha e eu preferi não usar'
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Com 1.742 entrevistados dessa faixa etária, a pesquisa investigou o
comportamento dos jovens brasileiros com relação ao uso de álcool e drogas, vida
sexual e cuidados com a saúde. O estudante de Jornalismo Túlio Rodrigues, de 19
anos, faz parte dessa estatística. Em suas últimas relações sexuais, não usou o
preservativo. "Na hora não tinha e eu preferi não adiar, mas estava sempre com
meninas conhecidas", justifica.
Ele revelou que seu maior medo é de gravidez. "Como eram meninas que eu
conhecia, nem pensei em doenças. A gente acaba confiando. Tenho cinco amigos que
engravidaram meninas e um deles acabou pedindo para a menina fazer um aborto.
Nessa época, fiquei com mais medo e comecei a usar camisinha, mas agora dei uma
relaxada", comenta ele.
Para os pesquisadores, as mulheres são as mais afetadas pelo comportamento
sexual de risco. Por desconhecimento ou pressão do parceiro, o índice de jovens
do sexo feminino que não usam preservativo é superior ao de homens - 38% delas,
ante 29% deles.
São elas também as que correm os maiores riscos no caso de uma gravidez
precoce ou de um aborto. "A gente sabe que o índice de aborto natural nessa
idade é baixo. Então, no mínimo, 8% dessas meninas estão praticando aborto e a
gente sabe que, em muitas vezes, vai ser feito numa clínica clandestina, o que
vai expor essas jovens a riscos que podem até levá-las à morte", afirma Clarice
Sandi Madruga, uma das pesquisadoras responsáveis pelo estudo.
Sedentarismo. Outro dado que surpreendeu os especialistas
foi o alto índice de jovens brasileiros sedentários. A pesquisa mostra que 79%
dos entrevistados não praticam atividade física frequentemente e 57% não fazem
nem sequer exercícios leves, como jogar futebol ou andar de bicicleta
eventualmente.
"Esses índices eu pensei que ia encontrar na idade madura e não entre jovens.
A facilidade de acesso ao videogame, ao smartphone, é algo que contribui para
esse dado, mas também a falta de espaços públicos para a prática do esporte",
afirma Ilana Pinsky, professora do Departamento de Psiquiatria da Unifesp e uma
das realizadoras do estudo.
Mais uma vez, os números entre a população feminina foram piores. O índice de
jovens mulheres que não fazem exercícios físicos regularmente chega a 86%, quase
15 pontos porcentuais a mais do que o índice do público masculino (71,7%).
"Não tenho dinheiro para pagar uma academia. Para caminhar ou correr na rua,
tenho medo de ir sozinha", afirma a estudante de Artes Cênicas Beatriz Avellar,
de 18 anos, que não pratica exercícios físicos regularmente.
Depressão e suicídio. Os pesquisadores também encontraram
índices altos de sintomas depressivos entre os jovens entrevistados. Um quinto
deles (21%) tem indicadores de depressão - o número chega a 28% entre as
entrevistadas do sexo feminino. Quase 10% dos jovens dizem que já pensaram em se
suicidar e 5% chegaram a tentar tirar a própria vida.
Para os pesquisadores, o sedentarismo é um dos fatores de risco para o
desenvolvimento da depressão. A doença, por sua vez, é fator de risco para o
maior consumo de álcool e drogas (mais informações nesta página). /
COLABOROU MARINA AZAREDO
Fonte: O Estadão