sábado, 23 de fevereiro de 2013

Yoani diz que se sentiu amordaçada por manifestantes Brasileiros

Yoani Sanchez, durante palestra em São Paulo, nesta quinta-feira (21) (Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP)Recebida com repúdio por manifestantes brasileiros contrários às criticas que faz ao governo de Fidel Castro, a blogueira cubana Yoani Sanchez disse, em entrevista exclusiva ao G1 na manhã desta sexta-feira (22), que se sentiu amordaçada durante os protestos. “São perguntas muito agressivas, uma campanhas de difamação, e não me deixam responder. Com minhas palavras eu poderia derrubar muitas dessas mentiras. Por isso querem me amordaçar. Mas por sorte, também tive acesso a muitos microfones e possibilidades de me explicar.”

Ela não esconde a frustração e assume que teve medo. “Temi agressões físicas, mas não os dos questionamentos. Gostaria de debater com essas pessoas que têm perguntas incômodas, mas elas não querem respostas.”

Na quinta-feira (21), o tumulto após o encontro entre grupos anti e pró-blogueira resultou no encerramento prematuro de evento em livraria na Zona Sul de São Paulo. Hoje, a sessão de autógrafos de seu livro [“De Cuba, com carinho”, lançado em 2009 pela editoria Contexto] seguida de debate em livraria na Zona Oeste da cidade, também foi cancelada. No início da semana, ela enfrentou protestos ao passar por Feira de Santana, na Bahia.

Para ela, o contato com os manifestantes não borrou a imagem que tinha da democracia brasileira. Embora questione a falta de fôlego do que considera um grupo de pessoas que "nunca esteve em Cuba" tampouco lê seu blog, endossa – e até inveja – o valor dado à liberdade de expressão.

“Foi uma maneira de comprovar como funciona na prática o Estado democrático. Eu ficaria muito feliz se em meu país pudéssemos sair pelas ruas e protestar contra o uma declaração de um funcionário do governo. Impedir que a informação flua é fanatismo. Essas pessoas falam com base em estereótipos e clichês. A elas recomendo que passem um tempo na Cuba real, não destinada aos turistas. Com mercado racionado, falta de liberdades, dualidade monetária, asfixia política, asfixia econômica, expressiva, e vamos ver quantos desses continuaram pensando dessa forma.”

protesto yoani (Foto: Leo Martins/Frame/Estadão Conteúdo)Tumulto e protesto conra a cubana Yoani em livraria na Zona Sul de São Paulo (Foto: Leo Martins/Frame/Estadão Conteúdo)

A cubana defende uma transição política para Cuba, mas não crê que o país sofrerá alterações após a morte de Fidel Castro. E garante que não pretende, em nenhum momento, ocupar um cargo político em um sonhado regime democrático. “Não me vejo no futuro em cargo político, ou paralmento. Me vejo trabalhando na imprensa. Cuba precisa de um jornal que narre a vida real, revise o passado e projete o futuro.”

Mineira
Nem só de animosidades ficará marcada a visita da dissidente ao Brasil. Ao menos não para ela. A cubana se declarou encantada pelo sabor do pão de queijo. Em visita ao Rio de Janeiro, onde desembarca neste domingo (24), espera provar mais da gastronomia do país. “Não tive muito tempo livre, mas gosto de navegar pela internet, ler os jornais e comer pão de queijo.”

Além do quitute, a Yoani ressaltou o carinho de boa parte dos brasileiros. “É muito gostoso caminhar pelas ruas, conversar com as pessoas, gente de todos os extratos sociais falaram comigo, manifestaram apoio, solidariedade, muito mais do que críticas.” 

Pelo mundo
Depois do Brasil, ela passará pela República Tcheca e Alemanha, e EUA. Yoni deve ficar quase 80 dias longe de Cuba. A incursão internacional, segundo ela, foi custeada por amigos, instituições filantrópicas, Anistia Internacional, e parentes – a passagem para Miami ela ganhou de presente da irmã, farmacêutica que mora nos EUA, a quem não vê há um ano e meio.

“Muitas pessoas se disponibilizaram a ajudar, e arrecadaram fundos para viabilizar minhas viagens. Não recebi um centavo de nenhum partido político ou governo.”

Questionada se a popularidade do blog teria alterado sua vida financeira, a blogueira resumiu: “Minha vida mudou para o bem e para o mal. Vivo com mais intensidade, tenho dias muito loucos, mas não me arrependo.”